Agricultura (Ed. 671)

Os cavalos também se abatem e os eucaliptos não ficam atrás

26/02/2015 (Ed. 671)
Texto e fotos de • Jorge Sofia*

Ed671_eucaliptos_Imagem-354Se tem lido a última página do jornal Gazeta da Beira, tem reparado que nos últimos tempos tenho vindo a falar de inúmeras maleitas e assuntos afins que afetam o Reino Vegetal. Por norma só falo de couves, batatas e afins que se podem comer, isto por defeito de formação. No entanto há outras culturas de grande interesse económico para o País que também estão sujeitas à ação predatória de pragas e agentes patogénicos. Veja-se o caso do clipo, digo calipo, digo clipo, enfim eucalipto. Para nós os mais gastos (velho soa mal e velhos são os trapos) o eucalipto tem significado diversas coisas: fumigações para tosses e traça das batatas, albergue de cigarras na ida para sul, destruidor de solos, complemento de pinhal, rendimento garantido ao fim de dez anos. Muitos o adoram, muitos o detestam. O que é certo, é que, desde que os primeiros surgiram, até ao dia de hoje, muita coisa se alterou para esta árvore. Foram introduzidas novas espécies, novas variedades, o pinheiro entrou em declínio, as populações rurais diminuíram e o eucalipto passou a ser considerado e respeitado como fonte de rendimento. Em muitas zonas do país tenho visto manchas de pinhal a serem substituídas pelo dito cujo, e tenho visto este amigo australiano a ser mimado como se de uma tenra hortícola se tratasse. Isto significa que se tornou uma cultura agrícola e como tal passou a merecer pragas e doenças.

Quando vamos pelas estradas nacionais, que das autoestradas não se vê nada, vamos lentamente apercebendo-nos de alinhamento de eucaliptos pequeninos, médios e nunca muito grandes porque os cortam antes…Particularmente nos mais pequeninos notamos que apresentam um ar como que queimado, particularmente nas folhas do coruto, alguns estão mesmo muito desfolhados, parecendo uma raquítica vara no meio da mata. De há alguns anos para cá tem-se vindo a instalar no eucaliptal uma doença conhecida como mancha de Mycosphaerella que se caracteriza por manchas necróticas localizadas (particularmente de forma arredondada e nas folhas), desfolha precoce em plantas juvenis, cancros (lembre-se, caro leitor, que cancro no meu métier significa ferida) nos ramos, morte prematura dos ramos e em alguns casos atrofia e morte da árvore. Temos portanto caso. Caso que será bastante importante nas árvores jovens pela diminuição da área fotossintética com consequente desfolha que poderá ocorrer até ao 4º ano de vida da planta. Naturalmente haverá diminuição da incidência e da severidade em plantas adultas (Porque estão lenhificadas, têm muito mais folhas e as folhas mais velhas serão mais resistentes). Esqueci-me de vos dizer, mas Mycosphaerella é um fungo, o que torna as manifestações da doença dependentes de fatores climáticos (os fungos necessitam de humidade e temperaturas amenas). Convém é saber que os efeitos desta doença podem representar uma perda de 15a17% na produção de novo volume de madeira.

Não havendo possibilidade de controlo químico, podemos recorrer a tentativas de redução dos efeitos da doença melhorando a ventilação, entrada de luz e adubação equilibrada das plantações para que as árvores possam suportar a queda de folhas. Atualmente a investigação procura obter variedades menos sensíveis o que passará pela resistência ou menor sensibilidade intrínseca a alguns clones ou por comportamento de crescimento vegetativo que não seja tão favorável à instalação e desenvolvimento da doença. Já agora sabia que em Portugal possuímos uma das mais avançadas unidades de investigação na área do eucalipto? Vá a http://www.raiz-iifp.pt e encha o ego.

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Redação Gazeta da Beira